Nosso 35º Título: Copa do Brasil 1996 – Jornada Heroica
Mundo Azul,
☻ A camisa pesou nesta conquista mais improvável da nossa história – Realmente foi uma jornada heroica, marcante, improvável e histórica a conquista da Copa do Brasil de 1996, em pleno Parque Antarctica, sobre o Palmeiras brilhantemente comandado por Wanderlei Luxemburgo.
Participaram da competição 40 clubes, sendo a primeira fase disputada pelos 16 times pior classificados dentro do ranking da CBF, classificando-se para a segunda fase (16ª Final) os 8 vencedores. A campanha do Cruzeiro na copa do Brasil de 1996 foi a seguinte:
♦ Segunda Fase - Juventus-AC: 1x1 (F) + 4x0 (C)
♦ Oitavas de Final - Vasco da Gama: 6x2 (F) + 1x1 (C)
♦ Quartas de Final - Corinthians: 4x0 (C) + 2x3 (F)
♦ Semifinal - Flamengo: 1x1 (F) + 0x0 (C)
♦ Final - Palmeiras: 1x1 (C) + 2x1 (F)
Já o nosso oponente na final (Palmeiras) tinha tido a seguinte campanha:
♦ Segunda Fase - Sergipe: 8x0 (F)
♦ Oitavas de Final - Atlético-MG: 2x1 (F) + 5x0 (C)
♦ Quartas de Final - Paraná Clube: 2x0 (C) + 3x1 (F)
♦ Semifinal - Grêmio: 3x1 (C) + 1x2 (F)
♦ Final - Cruzeiro: 1x1 (F) + 1x2 (C)
Antes da bola rolar a maioria dos analistas da imprensa dizia que o Palmeiras era favorito absoluto. Juca Kfouri, no célebre programa CARTÃO VERDE da TV Cultura, ao lado de José Trajano, Armando Nogueira e Flávio Prado, disse que cortaria um braço se o Palmeiras não fosse campeão. A história desta conquista ficou ainda mais dramática, depois de um empate no Mineirão em 1x1 com gols de Marcelo Ramos para o Cruzeiro e do zagueiro Cláudio batendo falta na gaveta de Dida, num jogo em que o Cruzeiro até teve mais volume, pressionou, criou chances de gol, mas, não conseguiu a vitória.
A partir daí toda a crônica esportiva dava como certo o título para o time alvi-verde, que havia vencido todos os seus adversários jogando em casa na competição, além de ter sido campeão paulista de forma absoluta, passando por cima de seus adversários sem dúvida alguma (em 30 jogos, foram 27V, 2E e 1D com 102 gols marcados e 13 goleadas), foi chamado com razão de Máquina Verde. E nas rádios de Belo Horizonte a desconfiança relativa às nossas possibilidades era enorme. Dias atrás eu conversava com a grande cruzeirense Lenna Lopes, que foi escondida da mãe dela para São Paulo ver o jogo junto com a torcida organizada e ela me dizia que fora para o Parque Antarctica com medo de voltar de lá com uma goleada na bagagem.
E tudo parecia caminhar para isto, quando em menos de 5 minutos de jogo, Dida já havia operado um milagre e na segunda jogada, ocorreu uma verdadeira linha-de-passe do ataque palmeirense e a bola foi passando de pé em pé, até que chegou a Luizão que cara a cara com Dida, chutou para marcar o primeiro gol da noite.
Com a vantagem, o Palmeiras passou a querer dar uma exibição de gala, colocar o Cruzeiro na roda, viravam as bolas de um lado ao outro, especialidade dos talentosos Djalminha e Rivaldo, secretariados por Cafu e Júnior nas laterais e mais Marquinhos (ex-Flamengo) no meio e Luizão no ataque. Chegavam com frequência absurda às portas do gol cruzeirense, isolado, defendido, trancado e guardado a sete chaves pela agilidade, classe, categoria e frieza do Dida. Esperava até o último minuto e dava o bote certeiro para ficar com a bola. Até o Amaral começou a enfeitar.
Só que o time do Cruzeiro estava encolhido, mas não estava morto. Numa cobrança de córner, no lado direito do ataque, Roberto Gaúcho toca para Palhinha, que se enrola na marcação, Amaral tenta dar um chutão, mas fura e Roberto Gaúcho lhe rouba a bola, entra na área e mesmo sem ângulo desfere um petardo, que Veloso nem viu por onde entrou, decretando o placar Palmeiras 1x1 Cruzeiro, que naquele momento levaria o jogo aos pênaltis.
O Palmeiras, acusou o golpe e no final do primeiro tempo, o Cruzeiro administrou o resultado, tocou a bola e esperava o tempo passar e começou a se soltar em campo. Palhinha, Cleisson, Roberto Gaúcho e Marcelo Ramos também começaram a preocupar o porco.
Luxa à beira do campo, insistia para que o time do Palmeiras voltasse à pegada inicial, porém, o Cruzeiro já havia recuperado a serenidade e os times foram para os vestiários e voltaram com as mesmas formações.
O começo do segundo tempo marcou uma das maiores “blitzkrieg” da história do futebol, porque o Palmeiras voltou com tudo dos vestiários e o Cruzeiro estava com uma postura resignada, era pragmático e frio em campo, esperava o tempo passar, enervava o adversário e a sua torcida, que comparecera em grande número, certa da conquista.
Nunca vi mais nem uma vez uma sequência tão grande de defesas difíceis, à queima roupa, resultante dos chutaços de longe do Cláudio, das cabeçadas de Luizão e Clebão, de bolas colocadas com força ou jeito por Marquinhos, Cafu, Rivaldo, Djalminha, Júnior e Luizão todas eram seguras firmemente pelo Dida, galhardamente espalmadas a córner ou tiradas pela defesa, que não se envergonhava de bicar para o mato, afinal, era final de campeonato.
Os jogadores do Palmeiras sentiram o drama, e tal qual George Foreman após o 7º round consecutivo massacrando ao grande Muhammad Ali (Cassius Clay), ouviu dele a seguinte frase: é só este boxe que você tem para me mostrar?...A sensação deles era a mesma iam, iam, iam, insistiam e não conseguiam fazer o gol, paravam no gigante Dida...Foreman, se descuidou, levou o contra golpe, caiu e não se levantou...
E no Parque Antártica, o fato se repetiu quando aos 37’ do segundo tempo, Roberto Gaúcho puxou um contra-ataque pela esquerda, cruzou alto e com efeito. A bola mudou de trajetória e enganou Velloso, que a soltou nos pés do nosso talismã contra o PORCO, Marcelo Ramos que só teve o trabalho de empurrar para as redes...
O time palmeirense foi a "knock-down", e não teve como se levantar mais.
O nosso time abrira uma vantagem muito confortável e possível de administrar até o fim do jogo, pois só perderia o título se tomasse dois gols, nos próximos 11 ou 12 minutos (os 45’ regulamentares e mais 3 ou 4’ de descontos). O Palmeiras, agora desordenado, tentou de todas as formas a virada no placar, mas, o Cruzeiro soube se aproveitar do desespero deles e levou o jogo sob seu controle até o final do jogo, silenciando o Parque Antarctica. O que a minha amiga Lenna não sabia é que sua alegria estava sendo registrada pelas câmeras de TV e foi assim que a mãe dela descobriu o que ela estava fazendo (rs, rs, rs).
No dia seguinte, o time ovacionado por uma multidão, desfilou no carro do Corpo de Bombeiros e aquela foi sem sombra de dúvidas a maior recepção que um time de Belo Horizonte recebeu de sua torcida na história. Uma recompensa para um time raçudo, corajoso, que sabia jogar de forma inteligente dentro e fora de casa e que deixou para nós esta página heroica, imortal e inesquecível.
O mais incrível de tudo, foi ver Levir Culpi, comandando um time de jogadores valentes e determinados, se sobrepor ao grande Palmeiras, decantado em verso e prosa por toda a crônica nacional treinado pelo competente e já laureado Vanderley Luxemburgo, em pleno Parque Antarctica.
Neste jogo da final da Copa do Brasil de 1996, o nosso grande goleiro Dida, em tamanho e em futebol, teve uma das maiores atuações individuais, de um jogador daquela posição, que eu pude assistir em toda a minha vida. Dida pegou demais e foi o responsável direto pela conquista. Muito próximas desta brilhante performance do nosso Dida, foram as atuações de Manga, jogando pelo Inter contra o Cruzeiro na final do Brasileiro de 1975, no gigante da Beira-Rio, quando também fez milagres, pegando os verdadeiros coices desferidos pelo Nelinho em direção ao gol colorado, só que além de não ter dois dedos da mão esquerda ainda estava com o pulso aberto. Outra atuação sensacional foi de Fábio na primeira partida da final da Libertadores de 2009 no jogo da ida em Mar Del Plata quando parou o ataque do Estudiantes, pena o Cruzeiro não ter ganho aquele título.
Mas, Dida fica desta forma eternizado entre os 3 melhores goleiros da história do Cruzeiro ao lado de Raul e Fábio, a ordem depende da visão de cada um de nós torcedores. Fábio ainda continua escrevendo a sua história no clube e ruma a passos largos para ter a honraria de ser o melhor goleiro da nossa história e também de ser o jogador que mais vezes vestiu a nossa camisa.
O melhor de tudo foi assistir a todas as mesas redondas e ver a cara de tacho de todos os comentaristas e em especial do Juca Kfouri, que mesmo sendo corintiano sempre torce contra o Cruzeiro. O apelido que ganhou foi Juca Salamandra porque o braço dele estava normal na bancada do Cartão Verde (rs, rs, rs).
Os lances mais marcantes da partida:
☻ 1’ - Djalminha cruza na área, a bola sobra para Luizão, que solta a bomba. A bola passa sobre o gol de Dida, com muito perigo.
☻ 5’ - GOL DO PALMEIRAS - Júnior inicia o contra-ataque tocando pra Djalminha, que faz lindo lançamento para Rivaldo. Na ponta esquerda, o camisa 11 cruza na medida para Luizão, que desvia de Dida e abre o placar no Parque Antártica. Palmeiras 1 x 0 Cruzeiro. A torcida palmeirense começa a gritar “É CAMPEÃO” com 6’ de jogo.
☺ 11’ – Depois de falta dura de Júnior em Vitor, o Cruzeiro começa a acender na partida e Nonato dá um bom chute que assusta a Veloso e vai para fora.
☺ 20’ – BOA CHANCE - Palhinha recebe de Cleisson, corta Amaral e da entrada da área bate forte na bola que sai à esquerda de Veloso, com muito perigo.
☺ 25’ – GOL DO CRUZEIRO – Escanteio para o Cruzeiro na ponta direita. Palhinha bate curtinho, para Roberto Gaúcho. O ponta se atrapalha com a bola, mas Amaral faz pior, dando uma furada esquisita. Roberto Gaúcho avança, entra na área, fica cara a cara com Velloso e solta a bomba no canto esquerdo de Velloso para empatar o jogo em São Paulo, mexendo no placar e fazendo explodir a torcida cruzeirense. Palmeiras 1 x 1 Cruzeiro.
☻ 30’ – Djalminha recebe livre na entrada da área e antes da chegada de Ricardinho chuta para o gol, mas, Dida defende.
☻ 35’ – DEFEZAÇA - Rivaldo dribla Ricardinho na entrada da área e é derrubado pelo volante. Falta perigosa para o Palmeiras, pertinho da linha da grande área. Djalminha cobra no ângulo esquerdo de Dida que voa e opera verdadeiro milagre.
☻ 37’ – ARROCHO - Na cobrança do escanteio, Luizão sobe com Dida, que não consegue fazer a defesa, Sidrack Marinho não marca nada, mas, felizmente Célio Lúcio espana a bola na pequena área, aliviando a confusão.
☻ 40’ - Cláudio solta uma bomba de fora da área. A bola passa perto do gol de Dida, com muito perigo.
♣ 45 + 1’ – FIM DO PRIMEIRO TEMPO
♦ INTERVALO – No Palmeiras: sai Cláudio (lateral) e entra Reinaldo (atacante).
☻ 47’ - Amaral recupera no meio-campo, avança com a bola e chuta forte de fora da área. Dida, bem colocado, faz a defesa segura.
☻ 58’ - Cafu faz boa jogada e cruza para Djalminha. O meia solta a bomba. A bola desvia em Vítor e sai. Mas, Dida já estava com ela na mira.
☺ 59’ – QUE JOGADA - Palhinha se livra de Júnior na entrada da área e sente Velloso saindo atabalhoado do gol e dá um lindo toque, tentando encobrir o goleiro. Velloso parece de elástico e consegue evitar o gol do Cruzeiro. Agora é a torcida do Cruzeiro que faz a festa cantando alto e calando os palmeirenses.
☻ 61’ - Marquinhos aciona Cafu, que chuta cruzado. A bola bate em Célio Lúcio, desvia em Célio Lúcio no meio do caminho e quase entra. Escanteio para o Palmeiras. Djalminha cobra e Luizão cabeceia para nova defesa de Dida.
☻ 64’ - MILAGRE DE SÃO DIDA – O Palmeiras bombardeia o Cruzeiro, Luizão cabeceia e Fabinho salva, em cima da linha. No rebote, Reinaldo solta a bomba e Dida faz milagre. Na sequência, o goleiro do Cruzeiro fica com a bola após chute de Júnior. Milagre de Dida em São Paulo! Impressionante!
☻ 65’ - SÃO DIDA DE NOVO - Que partida faz o goleiro do Cruzeiro... Luizão finaliza da entrada da pequena área. Dida, como uma muralha, salva o gol. Totalmente demais.
♦ 67’ - Palhinha tomou pancada no tornozelo, sentiu, saiu e entrou Edmundo.
☻ 69’ - Djalminha cobra escanteio de pé trocado, tenta o gol olímpico, mas, Dida tira de soco a corner. Cobrança do outro lado e Dida faz a defesa em definitivo.
☻ 70’ - Cafu cruza na área, a bola desvia em Nonato e faz Dida errar a saída. Reinaldo bate para o gol e Gelson salva. Cruzeiro na defesa, vai segurando o empate.
☺ 77’ – Vitor avança pela direita e deriva para o centro, quando recebe a pancada de Clebão. Marcelo Ramos cobra forte, mas, a bola sobe e sai longe do gol de Velloso.
☺ 82’ - Roberto Gaúcho passa por Sandro na esquerda, avança e cruza na área da altura do prolongamento da grande área. Velloso erra na interceptação da bola e solta a bola nos pés de Marcelo Ramos. O artilheiro não perdoa e estufa as redes do Palmeiras. E sai correndo para celebrar com o banco do Cruzeiro. Impressionante como Marcelo fazia gols no Palmeiras. Agora o placar mostra Palmeiras 1 x 2 Cruzeiro. Festa azul no Parque...
♦ 86’ – No Palmeiras sai Marquinhos meia e entra Cris (atacante).
♣ 90 + 1’ – FIM DE JOGO – Cruzeiro é Campeão
Cruzeiro - Campeão da Copa do Brasil 1996. Paulo Pinto/Estadão Conteúdo
☻ SÚMULA DA PARTIDA: PALMEIRAS 1x2 CRUZEIRO
♦Motivo: 2ª Partida da Final da Copa do Brasil
♦Data, Local, Hora: Parque Antarctica, São Paulo, 4ª Feira, 19/06/1996, 21:45 h
☺ Cruzeiro (4-4-2): Dida, Vitor, Gelson Baresi, Célio Lúcio e Nonato; Fabinho, Ricardinho, Cleisson e Palhinha II (Edmundo): Marcelo Ramos e Roberto Gaúcho. DT: Levir Culpi.
☻ Palmeiras (4-3-1-2): Veloso, Cláudio (Reinaldo), Sandro, Clebão e Júnior; Amaral, Cafu e Marquinhos (Cris); Djalminha; Rivaldo e Luizão. DT: Wanderlei Luxemburgo.
♦Arbitragem: Sidrack Marinho de Freitas (Federação Sergipana), com boa atuação.
♦Público Pagante estimado: 30.000 pessoas.
♦Renda: não informada.
Veja o jogo na íntegra:
☻ As homenagens desta coluna vão para: Gener Danielo Galvão, Eduardo Massa, Célio Siqueira, Rodrigo Nunes, José Elias Guimarães, Haroldo Elias, Carlos H. C. Campos, Anderson Olivieri, Bellini Andrade, Benny Gesmundo, Paola Loredo, Shara Rodrigues (aniversariante do mês) e Jorge Fernando Schulman. E para comandar este timaço uma grande cruzeirense que foi parte viva desta história, a minha amiga Lenna Lopes, agora HEXA campeã da Copa do Brasil.
☻ E de Conceição do Mato Dentro - MG e Região: Time da ConceicioZeiros com Gilson Vertelo, Fernando Vertelo, Magno Dias, Felipe Ferrari, Romero Ottoni Santa Bárbara, Ygor Duarte, Thadeu Miranda, Fredy Pereira Carvalho, Wilker Ferraz, Renata Cunha, Sabrina Pacheco, e Jaqueline Lima. E para comandar este timaço convoco a dupla cruzeirense mais pé quente do pedaço a grande Rúbia Santa Bárbara e Otacílio Costa Neto, que em breve vão se tornar uma só carne.
“Cruzeiro, Cruzeiro Querido... Tão Combatido, Jamais Vencido”
Por: João Chiabi Duarte - @JoaoChiabDuarte
Edição: Renata Batista - @Re_Battista